Pelo direito de torcer ou Policarpo Quaresma

julho 30, 2010 at 10:02 pm (Uncategorized)

Boa noite. Meu nome é Nilo, tenho 24 anos e nasci em Ituiutaba – MG. Até aí tudo bem. O problema é que sou corinthiano. “Que mal haveria em simplesmente torcer para um time popular como o Corinthians?”, talvez você esteja se perguntando. Nenhum. A incongruência está no fato de que, como eu disse antes, sou mineiro e o clube citado é paulista. Se você não simpatiza com o timão, calma, em nenhum momento desse texto defenderei a equipe.

É comum habitantes de cidades pequenas do interior, (especialmente em SC, PR, MG, GO, região nordeste…) torcerem para times que aparecem mais na mídia. Que clubes são esses? Sobretudo os dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Por que isso acontece? Bem, embora eu tenha algumas teorias, não as discutirei aqui, pois são meras hipóteses. Não conheço a realidade de cada um, apenas a minha. E é sobre ela que vou falar.

Desde pequeno eu gosto do Corinthians. Aprendi com meu pai e minha irmã. Lembro quando a gente assistia aos jogos. Eu, na verdade, nem entendia muito bem o que estava acontecendo, mas gostava de estar com minha família unido por um mesmo motivo. Sempre achei isso normal, até porque conhecia poucos atleticanos ou cruzeirenses. Muitos anos e jogos depois, me mudei para Pelotas – RS. Fui bem recebido e acolhido, exceto quando o assunto era futebol. 100% das vezes as pessoas notavam meu sotaque diferente, 95% das ocasiões perguntavam de onde eu era e em 90% das oportunidades questionavam se eu torcia pelo Atlético Mineiro ou pelo Cruzeiro. Quando dizia a verdade, era linchado verbalmente. Me sentia um leproso em Jerusalém.

Os ataques que mais frequentemente ouço são: “Você TEM que torcer para um time do seu estado!” “Você já viu paulista torcendo pra time de Minas? “Os caras de São Paulo riem dos mineiros do interior, não estão nem aí pra vocês”. Eu raramente digo algo em resposta, costumo levar desaforo pra casa. Mas eu gostaria de perguntar: quais são suas bandas favoritas, Beatles? Ramones? Guns ‘n’ Roses? E os últimos filmes dos quais gostou mais, “Rocky”? “Crepúsculo”? Leu o último livro do Dan Brown? E aquele antigo da Agatha Christie? Lembre-se de que Axl Rose disse que queimaria suas botas depois de pisar na América Latina e Stallone fez piada com o Brasil recentemente. Nem por isso vamos deixar de apreciar o que eles fizeram na música ou no cinema. Já pensou se a gente fosse obrigado a preferir Ed Motta, “Central do Brasil” e José de Alencar?

“Mas Nilo, é diferente”, tem gente pensando. Eu não acho. Quem sabe você só acha diferente porque é difícil assumir que gosta mais do rock dos Estados Unidos, dos filmes de Hollywood e dos best sellers internacionais da vida do que as coisas que vêm da sua terra natal? E antes que alguém diga que mudei da alçada de estado de origem para país de origem, pergunto se quem é de Minas só pode gostar de Jota Quest, recifenses de Guel Arraes e paranaenses de Paulo Leminski? Certamente esses artistas têm o seu valor – e ele é muito alto. Mas ser obrigado a elegê-los como meus preferidos apenas porque nasceram no mesmo pedaço de chão que eu? Se fosse assim, na verdade eu teria que não só escolher as coisas vindas de Minas Gerais, mas também as de Ituiutaba como as melhores. E o time então já nem mais seria Cruzeiro ou Atlético-MG, que são da capital, mas o glorioso Ituiutaba Esporte Clube. Paulistas riem de mim, mineiro do interior? Sim. Mas os cruzeirenses de Belo Horizonte também. Isso porque sou um caipira. E você, que é de Teutônia – RS, saiba que os porto alegrenses também riem de você por ser do interior. E ainda assim seu time do coração é da capital. Quantos niteroienses (RJ) não torcem pelo Fluminense ou guarujaenses (SP) torcendo para o São Paulo, ambos times da capital?

Certamente é importante reconhecer o lugar de onde viemos e valorizar as coisas de lá. Mas não seria interessante encarar isso como uma obrigação. Seria como um casamento arranjado. Eu reconheço mulheres como sendo o sexo de minha preferência, reconheço o valor delas, mas não é por isso que devo ser forçado a casar com uma mineira apenas porque ela é do meu estado. Se eu escolher uma gaúcha não significará que rejeito as mulheres de Minas Gerais nem que eu não valorizo minha terra. É apenas porque “rolou a tal da química” com uma garota de fora. Eu até gostaria de torcer por um time mineiro. Melhor, para um de Ituiutaba. Mas a química foi mais forte com o Corinthians.

Que fique claro que eu amo minha cidade, meu estado, meu país. Reconheço o valor da minha terra, sou grato a ela. Torcer pelo Corinthians não implica em torcer pelo estado no qual está sua sede. Se houvesse uma guerra entre Minas Gerais e São Paulo, eu talvez pegaria em armas contra os paulistas em defesa dos meus conterrâneos. Mas o Flamengo não existe para representar o estado do RJ nem o Internacional para representar o RS. Eles existem para representar apenas a instituição Clube de Regatas Flamengo e a instituição Sport Club Internacional. De outro modo, seriam aceitos apenas jogadores cariocas e gaúchos, respectivamente, para jogar em tais times. E não é isso o que acontece, muito pelo contrário.

Enfim. Quem conseguiu ler até aqui, não peço que aceite como verdade o que eu disse. Gostaria apenas que você respeitasse um corinthiano que nasceu em Ituiutaba ou um vascaíno nascido em Borá – SP, que nem time deve ter.

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Cinco sentidos

outubro 28, 2009 at 2:54 pm (Uncategorized)

Quem me acorda é Eddie Vedder. Ele está dizendo que sente algo morno escorrendo por entre os olhos, mas que de alguma forma avista sua garota no meio da multidão apreciando a cena do acidente, como urubus. Uma guitarra de acordes fáceis, mas não o suficiente para que eu saiba repetir o som, acompanha a lamúria.

Já li em algum lugar que o primeiro dos nossos sentidos que volta a funcionar quando despertamos é o olfato. Ou o último, não me lembro. O fato é que no meu caso, ele é o segundo. Sinto um cheiro de cabelo lavado com condicionador. É incrível como o aroma é sinestesicamente úmido, sugerindo que o banho foi há apenas algumas horas. Inspiro mais forte, seguro o perfume dentro dos pulmões por alguns segundos para depois desperdiçá-lo nas minhas hemácias.

Em terceiro lugar, o tato. Um formigamento no ombro que se irradia para o braço esquerdo; algo pesado em cima dele. Assim como acontece num infarto. Minha coluna dói um pouco. Percebo que estou com as pernas dobradas, na posição de quem está deitado sobre um puff que o tempo achatou e preenchido inutilmente por sacolas plásticas.

Quarto, visão. Vejo o rosto de uma mulher. As pálpebras ainda escondendo seus olhos azuis. É ela quem está sobre o meu braço. As sobrancelhas são uma penugem de um loiro quase branco e o nariz está a menos de um milímetro do meu. Ela abre os olhos, me vê e sorri, desfazendo o M do lábio superior e deixando o filtro labial mais raso. Fechamos os olhos novamente.

Finalmente o paladar.

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Oema

setembro 24, 2009 at 9:28 pm (Uncategorized)

O poema perfeito
não sai pela pena
sai da ponta do peito

O poema perfeito
é pesado e preciso
sem par sem preceito

Mas o poema perfeito
nunca perde sua rima
muito menos o p

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Desgraça

agosto 27, 2009 at 1:44 am (Uncategorized)

O quarto semestre da faculdade acabou com a minha vida. Uma vez por semana eu pensava em largar o curso. Uma vez por mês eu pensava em suicídio. Há dois anos, mal passei no vestibular e prontamente me disseram “Aproveita o começo, porque quando chegar no quarto semestre você vai ver o que é bom pra tosse”. Lembro que na época eu pensei “Não pode ser tão mal assim. Disseram a mesma coisa sobre a matemática da sétima série e eu não morri por isso”. Foi o meu primeiro engano.

Doze minutos de aula já foram suficientes para me apavorar. O professor, além de mal, era mau. E ainda por cima parecia se comprazer em sê-lo. Falou uma série de coisas que não poderíamos fazer e zero coisas que poderíamos fazer. Não satisfeito em ver os alunos rendidos, humilhados e de joelhos, apresentou-nos o famoso ciclo de Krebs. Minha primeira reação foi de pânico. Mas, adulto que sou, pensei “Não pode ser tão mal assim. Até a tabuada do nove eu já achei difícil um dia”. Foi o meu segundo engano.

Nas raras vezes em que conseguia dormir, meu referencial de sonho abstrato deixou de ser “voar” ou “falar com Deus” e passou a ser “isocitrato desidrogenase” e “reciclagem da ureia”. Deixei de usar fio dental para economizar tempo. Lembrava do hormônio ocitocina (cuja ação é a de ejetar leite estimulado pela sucção das mamas) em momentos relacionados, mas absolutamente inapropriados. A coisa estava tão feia que o telefonema anual de aniversário que minha irmã me faz converteu-se em três no intervalo de um mês para saber se eu estava bem. “Não pode ser tão mal assim”, ela disse. Eu até concordei. Foi o meu terceiro engano.

Em mais uma das mortais aulas de bioquímica, a professora teve a ingrata ideia de comentar as provas que tínhamos feito uma semana antes. Nunca esquecerei das suas palavras: “Gente, eu dei uma olhada nas provas. Eu estou hor-ro-ri-za-da”. Meu Deus. Se apenas com “uma olhada” ela ficou horrorizada, imagine quando ela ler a fundo a minha prova. Não demorou muito e ela acrescentou “E tem gente escrevendo com a letra feia demais. Tem uma prova lá que eu não entendi nada do que estava escrito”. Nessa hora eu pensei “Só falta ser de mim que ela está falando”. Foi o meu primeiro acerto. A professora, impiedosa, falou meu nome. Foi a única vez em que risos foram ouvidos durante uma aula dela. Além de burro, eu era agora humilhado. Escrever, antes motivo de orgulho, agora me causava insegurança.

A única coisa que passou a fazer minha vida valer a pena era a consciência de que aquilo um dia acabaria. E esse dia já estava marcado: 17 de agosto de 2009. Pausa. Quem aqui se lembra de quando a gripe suína começou a ficar mais forte no Brasil? Eu me lembro. Agosto de 2009. Um idiota deve estar pensando  “Mas nessa época aí era mais lá no Rio Grande do Sul”. Que coincidência. Acho que é uma boa hora para dizer onde fica minha faculdade: Pelotas, Rio Grande do Sul. As aulas então foram suspensas indefinidamente. Eu até torci para pegar a doença, como forma de ter que repetir o semestre, mas com classe. Por motivo de saúde o aluno não pôde fazer as últimas provas. Mas aqui estou, angustiantemente saudável, com a mesma alegria de um funcionário que trabalha sob o aviso de demissão.

Espero que um dia eu possa ler esse texto e rir, lembrando com saudade dessa época. Saudade só comparável à que tenho do nazismo, do domínio português, da final da Copa de 98, do presidente Médici e do surgimento da Aids.

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Ela

maio 14, 2009 at 10:37 pm (Uncategorized)

Quando eu tinha mais ou menos doze anos, uma súbita e incrível vontade de defecar instalou-se em mim. Devido a minha pouca idade e, consequentemente, aos poucos revezes da vida já sofridos, vivia ainda naquela crença de que só deveria cagar estando na minha própria casa. O fato de encontrar-me na escola naquele momento e, pior, em aula, só dificultava as coisas. “Professora, tenho que ir embora. Estou passando mal”. Eu não menti quando disse isso, afinal, a iminência de um desastre como aquele era passar mais mal do que qualquer cólica menstrual que algumas de minhas colegas experimentavam pela primeira vez. Sair da escola até que foi fácil. Difícil foi ir a pé, confiando no poder do meu esfíncter. Não deu. Depois de andar apressado por onze quarteirões, não deu. Faltavam apenas duas quadras, já daria pra ver chaminé da minha casa se ela tivesse uma. Lá chegando, escondi a tragédia de todos, sobretudo da minha mãe. A única prova do crime, minha cueca, incinerei no quintal.

Eis que onze anos depois, já tendo mudado de endereço seis vezes, vou à casa de uma colega, onde nunca estive antes, fazer um trabalho para a faculdade. Somos seis pessoas mesclando concentração nos números e fórmulas com divertidas piadinhas. E de repente Ela volta. Mas volta muito mais vigorosa. E não deixa dúvidas de que era Ela. Senti meu próprio intestino expulsar seu conteúdo para sua porção mais distal. A vontade de ir aos pés que se abateu sobre mim foi tamanha que só tive tempo de pensar: faço aqui mesmo ou levanto e vou embora? Como dessa vez seria apenas um quarteirão até chegar ao meu apartamento, opto por despedir-me dos colegas. “Tchau, gente” – disse apenas. “Por que você já vai, Inclusive?” – perguntou um que se dizia meu amigo. “Quem tudo quer saber, cedo envelhece” – respondi. Não havia tempo para explicações.

Senti que dessa vez novamente Ela triunfaria. Ela era poderosa demais. Tentei correr, só piorei as coisas. Passei então a caminhar rápido, como naquelas marchas atléticas. O caminho, mesmo curto, foi suficiente para pensar um turbilhão de coisas. Por que não usei o banheiro da menina? E se meu companheiro de quarto estiver tomando banho no único banheiro do apartamento quando eu chegar? Essa rua é escura o suficiente para cagar sem ser visto? Já começava então a lamentar ter que incinerar mais uma cueca. Dessa eu gostava tanto! Naquele momento já dava para ver a chaminé do prédio, caso ele tivesse uma. Em horas como essas é que vejo que não vale a pena morar no último andar só por causa da vista. Mas uma confluência de fatores favoráveis e milagrosos aconteceu: o elevador estava no térreo, ninguém embarcou nele e eu acertei a chave de casa na primeira tentativa. A última barreira, a do amigo tomando banho, também foi vencida. O banheiro era todo meu.

Já se passaram vinte e oito minutos e ainda estou sentado no vaso sanitário. Dessa vez Ela não triunfou. Ou melhor, talvez tenha triunfado. Talvez ela quisesse apenas demonstrar que, mesmo depois de onze anos, ainda ronda a minha vida. Talvez quisesse mostrar-se como um mal latente e ciumento, do tipo que exige que paremos tudo para dar-lhe atenção exclusiva. Dessa vez foi apenas um recado. Mas tenho medo de que Ela volte, vingando-se das ocasiões em que estamos em casa, com o banheiro a poucos passos distância, e não nos dignamos a levantar do computador para aliviar nossa vontade de cagar. Cuidado, amigo. Não A provoque.

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Posto de gasolina

maio 12, 2009 at 11:48 am (Uncategorized)

Há dois dias que a luzinha vermelha indicando gasolina na reserva estava acesa. Entrei por uma das duzentas entradas do posto e o frentista veio até o carro. Álcool ou gasolina, ele perguntou. Pedi um pouquinho de cada, como naquela propaganda, mas não pelo hype do comercial. Era a consciência ecológico-ambiental nossa de cada dia atuando: se por um lado o álcool evita que o petróleo do mundo acabe no mês que vem, a gasolina evita que alagoanos sejam explorados cortando cana nas usinas. Mas essa reflexão eu deixo para o João Lyra. O fato é que pedi mezzo-mezzo.

Desconfiando que eu teria direito a uma lavada grátis no carro, perguntei para o frentista quanto custava o serviço. Só nessa hora é que ele me revelou a verdade inconveniente: abastecendo vinte litros, você ganha uma lavada grátis. Senti que, acompanhando esse “grátis”, deveria haver algum asterisco. E tinha: a lavada era de graça, mas para secar custava cinco reais. Enquanto o rapaz lavava meu carro, eu pensava no que deveria passar pela sua cabeça naquele momento. Quantos carros ele lavava todos os dias, sendo que talvez ele nem mesmo tivesse um? Carros de filhinhos-de-papai de 23 anos como eu, que nunca trabalharam, enquanto que ele, que trabalhava desde os onze (e agora com quarenta) ainda não tinha podido comprar um? Era algo de que eu não me orgulhava.

Mas aí chegou alguém para me fazer esquecer do meu sentimento de vergonha por um segundo. Era um autêntico dândi com camisa da Tommy Hilfiger. Chegou, pegou a chave do conversível que tinha deixado para encerar, abriu a carteira de modo solene e, com o desdém próprio de gente rica, perguntou: Quanto é mesmo, amigão? Amigão. Sei. E o pior é que o povo acredita. Os mais pobres deveriam saber que gente rica não os vê como amigões, enquanto que os mais ricos deveriam saber que gente pobre não os vê como heróis.

Feito, moço – disse o homem que tinha lavado meu carro. Tá bom, falei. Você seca pra mim, por favor? Ele secou. Na hora de pagar, entreguei a última nota de cinco (as outras eram de dois) e agradeci. O homem ficou parado me olhando e com um sorriso sem graça falou: Sabe o quê? É que a partir de hoje é sete reais pra secar o carro. Nessa hora olhei para onde ele estava apontando e vi que o cartaz que dizia o preço novo estava sendo colocado naquele instante. Inconformado, lutei pelo meu direito: enfiei a mão no bolso e tirei uma nota de dois e paguei. O meu direito era o de ficar calado, claro. Afinal o rapaz não tinha nada a ver com aquilo, a não ser, claro, que eu encrencasse. Aí o patrão colocaria toda a responsabilidade em cima do infeliz. Na saída, comprei um maço de cigarros e fumei de uma vez só. Eu já tinha sido politicamente correto demais naquele dia.

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Entrevista: Vanessa Rabuske Araújo

abril 2, 2009 at 9:15 pm (Uncategorized)

Cloaca Pública: Cego de nascença sonha?

Vanessa: Acho que sim, mas nada visível. (risos)

Cloaca Pública: Você prefere que na sua formatura mostrem uma foto sua em nu dorsal no clip da turma nos slides ou deixar escapar um arroto no microfone durante o juramento (sendo você a juramentista)?

Vanessa: Nu dorsal, com certeza! Acho que teria mais chances de agradar, embora provavelmente não a maioria nem a totalidade da platéia, do que um arroto. Prefiro agradar do que ser escatológica.

Cloaca Pública: Qual é o seu palavrão favorito?

Vanessa: (risos) Tem vááááários! Quase impossível eleger um só. Pode dois principais? Porra e caralho são clássicos!

Cloaca Pública: Por quê?

Vanessa: Porra, Nilo, pergunta cretininha, hein? Acho que é porque devo gostar de ambos. (risos) Tou brincando, não põe isso!

CP: É melhor ser irmã mais nova do Lídio Mateus ou filha do Inri Cristo?

Vanessa: O Lídio é aquele pirralho muito besta que faz videozinhos por aí e põe na net, né? Eu acho que preferiria ser irmã do Lídio, teria um show de talento na minha própria casa.

CP: O que você diria para o Capeta?

Vanessa: E aí, meu filho, vamos tomar uma ceva ali com o pessoal?

CP: Lembre-se de que ele é feio e fede.

Vanessa: Isso é coisa do inconsciente coletivo, eu tenho uma imagem bem bacana do Diabo. Um cara bem no stress, bem malandrinho. Acho até que me daria bem com ele. Gente fina!

CP: Mancar da perna direita ou ser banguela do incisivo central superior?

Vanessa: Bah, essa é foda, mas com o progresso das práticas odontológicas, acho que ficaria com o buraco no sorriso, depois era só pagar uma prótese e aparafusá-la. Mancos são sempre mancos, pense nisso.

CP: Se te dessem dois mil reais para obrigatoriamente serem gastos em nove minutos, você compraria o quê?

Vanessa: Ia dar o dinheiro pra algum cirurgião plástico das minhas amigas que já colocaram silicone e diria que com o tempo viriam os outros três mil.

CP: Dançarina do É o Tchan ou atendente do tele-sexo?

Vanessa: Puta merda… ia começar como dançarina até foder de vez com os meus joelhos… depois ia partir pro tele-sexo.

CP: Cospe ou engole?

Vanessa: Depende (risos).

CP: Como assim?

Vanessa: Justificativa imprópria para menores. O blog não deve ter restrição, né? Viu, bizarramente sou uma pessoa politicamente correta!

CP: Agora a última: por que mulheres só vão de duas ao banheiro?

Vanessa: Perguntou pra mulher errada! Eu amo ir sozinha ao banheiro, dar a minha própria voltinha e ser independente. Mas quando vamos de duas ou três há duas razões: falar mal de alguma outra mulher lá dentro ou falar do cara com quem estamos, se é bom, se é ruim, se precisa da ajuda da amiga pra dar um chega pra lá, ou seja: pra contar as novidades.

CP: Então você costuma resolver com o cara ou com a menina idiota sozinha?

Vanessa: Com o cara normalmente me viro sozinha, mas a “menina idiota” não merece que eu vá lá avisá-la que ela é idiota ou que eu reclame pra ela. O objetivo é rir dela no banheiro, e não tentar mudá-la. As pessoas costumam encarar as críticas que te magoam negativamente, mas é a única forma de a pessoa se dar conta de que pode estar sendo imbecil e tentar melhorar. E meu objetivo é que a “idiota” continue idiota pra ser sempre diver falar dela!

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Loira

abril 2, 2009 at 3:24 pm (Uncategorized)

Esse é o último casamento ao qual venho – pensei. Do noivo, nunca tinha ouvido falar. A noiva, uma prima com quem conversei cinco ou seis vezes. O principal problema foi tratar-se de um casamento de rico. Detesto ricos. Tudo o que eles fazem é desprezar: despreza-se a hora certa de chegar, despreza-se a comida do buffet, desprezam-se as convidadas que vieram em vestidos repetidos. A cerimônia religiosa mesmo não teve nenhuma novidade: o padre leu aquela carta de São Paulo aos Coríntios sobre o amor e, contrariando um sonho de criança, não disse “Se alguém tiver algo contra esse casamento que fale agora ou se cale para sempre”. É para sempre, entende? Foi na festa depois da igreja que tudo começou.

Entrei no salão fingindo falar ao celular para evitar cumprimentos, abraços e há quanto tempos. Sentei estrategicamente perto da mesa de frios e longe da pista de dança. Mesmo no lugar esquecido em que estava, muitos primos, tios ou ex-vizinhos vieram me cumprimentar. Na dúvida, pedi a benção para todos. Foi aí que vi, duas mesas à frente, uma figura intrigante.

Era uma loira não muito bonita. Mesmo assim, na hora em que botei os olhos nela, pensei Eu conheço essa mulher, não sei de onde, mas conheço. E não era conhecer por conhecer, eu tinha certeza que era muito mais que isso. Caralho, eu a amo! Quando acabei de confessar isso mentalmente, ela me viu. E começou a andar na minha direção, sem desviar o olhar. Na metade do caminho ela começou a sorrir. “Inclusive! – disse ela me abraçando – “Há quanto tempo!” Oi! – respondi monossilábico. “Lembra de mim?” – ela, desconfiando que não, perguntou. Claro! Puxa, você sumiu do mapa, menina! “E você, Inclusive, não mudou nada!” Nem você, menina! – falei.

O jeito com que ela passou a mão nas minhas costas na hora do abraço não me deixou mais dúvidas: ela também estava apaixonada por mim. A diferença é que a Loira sabia muito bem quem eu era e eu não tinha a menor ideia de quem ela fosse. Nem o nome eu sabia. Mas isso não nos impediu de engatar um namoro naquela mesma noite.

Passaram quatro meses de namoro firme, sem nenhuma briga. Nunca tive grandes problemas por não saber quem ela era, era só chamar de “meu amor” e ficava tudo certo. Até que um dia nós dois fomos para a fazenda de um tio dela e, na hora em que a Loira me pediu para gravar nossos nomes com o canivete na árvore, tive um desespero súbito: como eu poderia confessar, depois de tudo, que não sabia o nome dela? Só me restava chutar mesmo. “Inclusive e Lígia”, arrisquei. “Seu bobo” – ela disse, rindo bastante – “assim eu fico com ciúmes!”

A única briga que tivemos foi quase uma semana depois. Enquanto ela dormia, abri sua bolsa no escuro procurando algum documento que me revelasse seu nome. O barulho de uma caixinha de tic tac me denunciou. A Loira levantou da cama, exaltada: “Por que você está mexendo na minha bolsa? O quê que tá havendo?”. Eu não tinha nenhuma desculpa. Resolvi contar tudo de uma vez: “Olha, Loira, eu não sei o seu nome, sabe? Desculpa, mas eu não sei, pô. Nem lembro de você. Abri a bolsa pra ver se acho sua identidade, CNH, sei lá. Qualquer coisa que tivesse escrito o seu nome”. Eu já começava a me vestir para ir embora quando ela repentinamente desatou a rir. Isso mesmo, rir: “Ai, Inclusive, só você mesmo pra ter senso de humor à essa hora da madrugada”. Dentre todas as suas qualidades, estava, claro, a de ser compreensiva. Depois dessa eu não podia fazer outra coisa a não ser pedi-la em casamento.

Já na igreja, eu lá na frente, no altar, e nada da Loira chegar. Claro, como eu não tinha pensado nisso antes? Uma mulher tão perfeita não poderia nunca se casar comigo. Deve ter desistido, a coitada. Mas não, lá está ela, a Loira, entrando. E como está linda. Depois da habitual leitura da carta aos Coríntios, o padre diz “Inclusive Trégua, você aceita Érika Alves como sua legítima esposa?”. Érika? A Loira é a Érika, então? Agora eu lembrava de tudo. E não estava gostando nada disso.

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Entrevista: René Dirty Furlan

março 30, 2009 at 10:29 pm (Uncategorized)

Cloaca Pública: Deus existe?

René: Cara, que pergunta foda. Eu acho que sim. Porque às vezes eu sinto. Às vezes eu sinto coisas estranhas, mas tou usando isso pra tentar corroborar a teoria de que ele existe, porque eu não tenho coragem de afirmar que sim ou de negar completamente, não tenho provas de nada. Mas o conceito de Deus ajuda muita gente. Especialmente para os que sofrem, é bom acreditar num ser superior, imortal e num paraíso para ir após a morte. Faz a vida fazer mais sentido. Eu prefiro acreditar que existe.

Cloaca Pública: Essa resposta é bem diferente da rebeldia que você costuma apresentar. No seu orkut, por exemplo, você diz, entre outras coisas, que “o pior mal para a humanidade é a Igreja”.

René: Mas eu continuo a odiar a Igreja. Deixa eu continuar então? Esqueci de xingar a Igreja. Eu critico é a maneira pela qual as pessoas acham que chegam a Deus. As religiões ditam coisas distorcidas que se deve fazer para chegar a ele. Pegam um livro, o batizam como “a palavra de Deus” e interpretam de acordo com interesses.

Cloaca Pública: Na sua formatura, na hora em que anunciarem seu nome para ir receber o diploma, você prefere que toque “Apago as memórias”, interpretada por Lídio Mateus ou levar um baita tombo no tapete vermelho?

René: Levar um tombo. Eu prefiro passar uma vergonha com uma atitude inesperada do que com uma música ruim que eu escolheria cuidadosamente antes do evento.

CP: Qual é o seu pior pesadelo?

René: Ser sequestrado, me obrigarem a fazer uma carta falsa de suicídio, colocarem uma arma na minha mão e me matarem.

CP: Se pudesse ressuscitar alguém, que seria?

René: Alguém que já morreu?

CP: Bom, considerando que só se ressuscita alguém que já morreu, sim.

René: (risos) Você entendeu errado. Tipo, achei que a pergunta fosse pro futuro, sabe, alguém que vai morrer. Herlan, filho do amigo do meu pai. Ele era muito jovem e parceria.

CP: Prefere peidar alto e inodoro ou silencioso e fétido no jantar em que você está sendo apresentado aos pais da menina dos seus sonhos?

René: Silencioso e fétido, certeza absoluta. Como haverá mais de duas pessoas na mesa, ninguém vai ter certeza de quem foi.

CP: Qual é a palavra que você mais detesta?

René: Serve gerundismos em geral? Se não, não odeio palavras específicas desde que escritas corretamente.

CP: Prefere ter um filho que dança balé ou uma filha que joga sinuca no boteco?

René: Filha que joga sinuca, pois eu não gosto de balé e também essa dança indica alta probabilidade de o praticante ser homossexual, ao contrário de gurias jogando sinuca, que é muito sexy.

CP: Você quer que sua filha seja sexy?

René: Sim, quero ter uma filha sexy. Mas não vulgar.

CP: Prefere ser o artilheiro idolatrado da Venezuela ou o terceiro goleiro do Brasil?

René: O terceiro goleiro do Brasil, pois aqui o futebol é mais famoso, teria mais chances de ir pra fora (é o que eu queria) e não gosto da Venezuela.

CP: Você odeia profundamente alguém?

René: Não, pois o ódio contém sentimento de vingança e de interesse em acompanhar a vida do odiado. O que eu tenho é sentimento de desprezo, que, acho eu, é melhor. Sabe quando tu percebe que a pessoa faz algo pra te incomodar e com atitudes dela que te irritam. Eu sinto isso por uma pessoa. Mas não é da faculdade, tu nem conhece.

CP: Prefere ser impotente sexual duas vezes por semana ou asno dia sim, dia não?

René: Impotente duas vezes por semana, pois eu não ficaria na seca. Escolheria o dia certo e já era.

CP: Você gosta mais da sua mãe ou do seu pai?

René: Os dois igualmente, sei que é resposta padrão, mas é verdade. Os dois têm atitudes que eu curto e que eu não curto também. Os dois se equilibram.

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Convenção social

março 28, 2009 at 2:56 pm (Uncategorized)

Entramos no supermercado e peguei dois pães. Sessenta e cinco centavos, a moça do caixa falou. Dei uma nota de dois e esperei o troco, que veio em várias moedas. Deixei pra conferir já dentro do carro.
– Não é possível – falei.
– Não é possível o quê? – ela perguntou.
– Aquela desgraçada dar o troco errado pra gente. Tá faltando trinta centavos aqui.
– Mesmo? Vai ver ela se enganou – minha mulher falou, tentando minimizar a tragédia.
– Se enganou o escambau. Conheço bem esses filhas da puta. Fazem isso pra cobrir erros que eles cometem até o final do expediente. Isso se não for por pura malandragem.
– Calma, meu bem, vai ver estão com falta de moedas.
– Justamente. Se estão com falta, como é que dão um monte de moedas de cinco? Se fossem de cinquenta economizava mais. Isso é tática deles. Te enchem a mão de moedas para você ficar com preguiça de conferir e ir embora. O pior de tudo é que eu ainda agradeci. Agradeci a sacanagem.
– Você não sabe se foi sacanagem…
– Ela deve estar até agora rindo da minha cara. Isso é que dá.
– Isso é que dá o quê?
– Essas convenções sociais idiotas.
– Como assim?
– Como assim? Como assim que tudo é convenção social.
– Dar troco errado é convenção social?
– Não, foder com os outros tem outro nome: filhadaputagem. Convenção social é a gente não conferir o troco na frente do caixa, só pra não parecer indelicado.
– Ah, isso é mesmo. Me mataria de vergonha você lá, contando moedinha por moedinha e criar caso por conta de vinte centavos.
– Vinte não, trinta.
– Que seja. É muito pouco.
-Aí, tá vendo? Outra convenção social.
– Qual?
– Essa ideia de que moeda não vale nada. Vale sim senhora. Já vi gente comprar casa só com moeda.
– Sei, sei.
– Porra, não acredita? Você não assiste o Fantástico não?
– Eu não.
– Ah é, esqueci que só tem tempo pra assistir a Luciana Gimenez. Não sei qual o segredo daquela bosta de programa.
– Muito melhor que o Zeca Camargo. Zé caga amargo, isso sim.
– É mesmo. A Gimenez pelo menos é gostosa.
– Ai, já vai começar.
– Ela é gostosa ou não é? É, uai. E a senhora gosta. Aquele programa só fica mostrando mulher boa lá, desfilando de lingerie. Vai dizer que você acha que eles mostram aquilo por causa da lingerie?
– E por que não?
– Por que não? Porque em vez de eles falarem o preço das calcinhas, ficam falando os ml dos peitões.
– Tá, e o que isso tem a ver com moedas? Vai dizer que já viu modelo comprar silicone com moeda também?
– Ainda não. Mas daqui uns dias, quem sabe.
Nessa hora dei sinal de virar à esquerda e comecei a pegar o caminho de volta para o supermercado.
– Aonde você está indo? – ela perguntou, desconfiada.
– Para o supermercado. Vou voltar lá – falei, sem tirar os olhos do retrovisor.
– Ai, não acredito nisso. Encosta aí, eu vou descer.
– Vai nada. Eu preciso de você lá.
– Pra quê? Pra não passar vergonha sozinho?
– Não. Pra te entregar o troco certo. Assim você já começa a juntar dinheiro pra por silicone nos seus peitos.
– Eu tou falando sério. Para o carro.
– De jeito nenhum.
– Eu vou pular dessa droga.
– Pula então. Quero ver.
– Poxa, não faz isso. Vamos embora, pelo amor de Deus!
– Deus. Deus disse “não furtarás”. A caixa me furtou trinta centavos, não posso deixar isso acontecer. Contraria a justiça divina. E essa de “pelo amor de Deus” é só convenção social.
– É, é sim. Só que a gente querer dinheiro também é só convenção social.
– Tem razão.
– Tenho?
– Claro. Vamos embora pra casa – eu falei, dando sinal de virar à direita – Eu não vou viver de convenção social porra nenhuma. Só espero que aquela vagabunda faça bom proveito dos meus vinte centavos.
– Trinta, amor.
– Que seja.

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